Alessandro Stefanutto, ex-presidente do INSS exonerado após ser alvo de uma operação da Polícia Federal que investiga fraudes bilionárias na autarquia, carrega nas costas um histórico antigo — e até hoje mal explicado — de acusações por desvio de dinheiro. O episódio, considerado um “pecado juvenil” por alguns, agora ressurge com peso simbólico à luz do escândalo recente que envolve o prejuízo estimado em R$ 6,3 bilhões nos cofres da Previdência.
Três décadas atrás, em 1991, Stefanutto foi apontado por colegas de turma da Escola Naval, da Marinha do Brasil, como responsável pelo sumiço de recursos arrecadados para a festa de formatura da turma. O episódio nunca ganhou publicidade nem gerou consequências legais, mas terminou em ruptura: ele pediu desligamento da corporação antes mesmo de concluir o primeiro ano.
De acordo com registros da Marinha, o ex-presidente do INSS ingressou na Escola Naval em 7 de fevereiro de 1991, vindo do Colégio Naval, e pediu desligamento no dia 17 de dezembro do mesmo ano — menos de 11 meses depois. Em nota enviada à Folha, a Força Armada confirmou os dados, mas afirmou que não há registros oficiais sobre irregularidades relacionadas ao então aspirante.
Entre ex-colegas da época, a história é contada com desconforto. Um oficial da reserva ouvido sob condição de anonimato afirma que Stefanutto “desapareceu do convívio da turma após a polêmica envolvendo o dinheiro da festa”. Segundo ele, os valores desviados seriam “irrisórios” se comparados ao esquema investigado pela PF, mas suficientes para provocar indignação em jovens de 18 ou 19 anos que viam na honra militar um pilar de formação.
“Na época, ficou por isso mesmo. Ele saiu, não prestou mais contas, e a turma seguiu. Mas o nome dele nunca mais apareceu entre os ex-colegas”, relatou um ex-integrante da turma de 1991 da Escola Naval.
Stefanutto, que chegou à presidência do INSS por indicação técnica, foi exonerado em abril deste ano, após a Operação Falso Negativo revelar um esquema em que descontos eram feitos indevidamente em aposentadorias e pensões — sem o consentimento dos beneficiários — para pagamento de consignados e mensalidades de associações de fachada.
Procurado pelo jornalista Lauro Jardim, Stefanutto não respondeu aos pedidos de entrevista. Em nota anterior, sua defesa tem alegado que ele “jamais participou ou teve conhecimento de qualquer irregularidade” e que sua conduta à frente da autarquia “sempre se pautou pela ética e pelo interesse público”.